Com ser grata pelas experiências dolorosas?
O que aprendo com isso?
Sofremos opressão externa, que parte de outras pessoas, mas há um opressor interno que conversa com esse opressor externo. Há uma parte nossa que é um predador natural e que atenta contra nossa própria vida, como ilustra a Clarissa Pinkola Estés em seu livro “Mulheres que correm com os lobos”. Assim ao darmos muita força para essa voz interna, podemos chegar à um extremo que é o suicídio, o fim da nossa própria vida. Em lugar de negar a sua existência chamemos essa voz que diz:
“Você não é boa o suficiente. ”
“Quem é você para fazer isso? ”
“Isso não vai dar certo! ”
“Você vai errar feio e se machucar muito.”
“As pessoas vão rir de você, isso é ridículo. ”
Em lugar de negar, chame essa voz interna para conversar:
– Vem cá, do que você precisa? Como eu posso te ajudar?- Assim você parte de um lugar de mais poder, onde o poder é seu e não dela. Se ela disser:
– Você não boa o suficiente!
Responda: Você está preocupada com minha competência e quer certificar-se de que preciso trabalhar melhor minhas habilidades? Então quais habilidades eu preciso melhorar?
Se houver habilidades a serem melhoradas crie um plano de ação e comece a cuidar disso que precisa ser cuidado. Agora se não houver… bem essa voz predadora estará dizendo uma inverdade, e você pode dizer isso a ela, e passar a confiar mais em si mesma. E perceba que mesmo essa voz, se tiver a acolhida necessária, pode atuar como um farol que mostra para onde você deve olhar, afim de melhorar e aumentar a sua segurança nas decisões ao fazê-la pensar sobre quais são os pontos de gargalo e perigos que sua intenção pode ter.
E assim você é capaz de ver tudo na sua inteireza: com sua beleza, sua feiura, possibilidades de sucesso e de insucesso, tudo junto e misturado como os vários lados de um cubo. Perceba que um dado não possui apenas o número 1, ele também possui o número 2, 3, 4, 5 e 6 ainda que no momento em que você o jogou tenha saído apenas o número 1 – o qual foi uma das possibilidades para aquele evento no jogo. O dado é apenas o número 1? Não, ele é o número 1 também, e tem mais outras 5 possibilidades numéricas.
Assim somos nós (claro, bem mais complexo que isso) pois temos uma série de facetas internas possíveis, e que surgem consciente ou inconscientemente quando menos esperamos e conforme as possibilidades de cada momento em nossa vida. O mais é importante é acolher o que vier e investigar internamente: qual parte de mim contribuiu para a manifestação dessa experiencia (ainda que dolorosa e “indesejada”) na minha vida?
E a vida adulta é isso mesmo, ser madura emocionalmente é isso: a vida é o que é, e não pede licença para acontecer, simplesmente acontece. Não podemos apagar o passado… por muito tempo eu não acolhi minha história pessoal, minha biografia. Eu queria ter outra história para contar, outra biografia para mostrar nas fotos. Mas gostando ou não, a minha história é o que é, a minha biografia é o que é, e são elas o que tenho para contar e para mostrar, goste eu ou não, goste as outras pessoas ou não. Tudo será mero julgamento meu ou de outros… e isso é o menos importante. Acolher minha própria história pessoal trouxe-me um senso de inteireza e integridade que deram-me uma força e uma potência gigantes, simplesmente por não ter medo de esconder aspectos de mim, ou criar máscaras minhas cheias de histórias editadas (sem os trechos e capítulos de dor, sofrimento, fracasso…), essa é a força da transparência. Por torna-me inteira, sem fragmentos espalhados por aí, consigo ser mais forte, sustentando as consequências de que sim posso ser julgada positiva ou negativamente pelas pessoas, mas isso é muito pequeno diante da beleza e grandeza de ter a coragem de ser quem realmente sou com minha luz e sombra.
Dizem que precisamos de máscaras pra viver em sociedade… bem como dados temos várias facetas e papéis sociais nas relações, e também não conseguimos ser todas elas ao mesmo tempo em todos os momentos, assim como quando jogamos um dado. Todavia o mais importante é saber que todas as facetas são parte de você, compondo um todo que é maior que a soma das partes, acolhendo e amando todos os aspectos do seu ser e aprendendo deles. Acho que isso liberta sim. E assim a vida segue…
Agradeço aos encontros com pessoas que me possibilitaram aprender tudo isso, na alegria e na tristeza, como grandes mestres na minha vida. Gratidão Universo por todo o aprendizado que me proporcionou.